sábado, 29 de março de 2008

Discussão com a academia - Marxismo como ferramenta revolucionária

O Marxismo como ferramenta de interpretação e transformação da realidade, e não como “mera” teoria academicista

Torna-se cada vez mais comum, nas salas de aula, tanto alunos como professores afirmarem a morte do marxismo. Vangloriam-se e falam, com um largo sorriso, que a decadência do regime soviético, a queda do muro de Berlim demonstram o desmoronamento de toda uma doutrina que já nasceu fadada ao fracasso. Acusam a teoria marxista pela burocratização da União Soviética. Alegam que esse sim era o “socialismo real”.
É impressionante como tentam desconstruir de forma simplista e nada científica um pensamento que nasceu de anos e anos de reflexão, nasceu da apurada observação científica e do acúmulo de experiências da classe operária, e que também se originou do que se tinha de mais avançado das próprias teorias burguesas, como da análise econômica clássica inglesa, do socialismo francês e da filosofia clássica alemã, como se essa desconstrução e a decretação da morte do marxismo pudesse e possa ser feita de forma mecânica, e meramente por uma vontade ou gosto individual. Infelizmente, para esses alunos e acadêmicos, a realidade prova que a teoria marxista está demasiadamente viva.
No entanto, ao não conseguir provar de forma científica a morte do marxismo, ou então o fim da classe trabalhadora, a academia burguesa, faculdades, universidades, que produzem seu conhecimento para a manutenção do sistema capitalista, buscam “capar” cada vez mais o marxismo da sua essência revolucionária. Professores, os mesmos que já não conseguem sustentar perante seus alunos o fim do marxismo, declaram a utilização apenas da análise materialista, ou seja, o materialismo histórico de Marx. Fragmentam o marxismo (como se isso fosse possível), e o deturpam ao máximo, pois sabem que por suas posições políticas - seus anseios de manterem o status quo da sociedade - não podem e nem querem levar o marxismo até as suas últimas conseqüências, ou seja, de transformar radicalmente a sociedade a partir da tomada de poder da classe trabalhadora, e consequentemente com o fim de sua divisão de classes.
O mais interessante, é que, quando o “marxismo” é mantido vivo na academia, são criados “nichos” de discussões, como se o mesmo pudesse ser estudado apenas de forma paralela ao próprio currículo dos cursos de humanas. Maior exemplo disso é o Centro de Estudos Marxistas da Unicamp, que se vangloria de organizar um evento por ano e reunir um punhado de intelectuais – marxistas envergonhados - que com suas divagações teóricas isolam cada vez mais o marxismo - ferramenta de interpretação e transformação da realidade - da classe trabalhadora. São primadas horas e mais horas discutindo vírgulas e mais vírgulas que Marx usou no O Capital, e o duplo sentido que isso ofereceu a seus escritos, ou então a definição acertada ou errônea que Nicos Poulantzsas fez em relação ao Estado, enquanto que uma análise primordial como a da crise estrutural do capitalismo (crise econômica) que afeta seu país central – EUA – passa em branco para esses “marxistas’’. Nesse sentido, não se discute se a ferramenta marxista ainda pode ser utilizada para tanto interpretar como transformar a realidade, a recomposição lenta e gradual do movimento operário a nível mundial, as crises de direção do movimento de massas, as possíveis repercussões da crise financeira nos países centrais ou semi-coloniais. Se por “fatalidade” esse espaço puramente acadêmico permitiu a presença de algum trabalhador, com certeza o mesmo diria que o marxismo não responde as suas questões vitais e centrais de luta. É claro, esse marxismo totalmente “academicizado” não responde às demandas dos trabalhadores.
Mais do que nunca se faz necessário que os estudantes marxistas entendam que ao passo que o marxismo também é dotado de uma rica e profunda teoria, é vital que o mesmo também se torne a ferramenta de luta da classe trabalhadora. Não podemos mais aceitar acusações e insultos da academia que os estudante marxista é apenas aquele que leu os 5 volumes de O Capital de “trás pra frente”. Ótimo e necessário que os marxistas busquem “beber” cada vez mais de teoria revolucionária, mas que se compreenda que o marxismo é uma ferramenta de luta, de interpretação e transformação social. Os trabalhadores, por suas condições materiais - o capitalismo não permite que os mesmos se formem teoricamente – não têm acesso a uma formação teórica, mas sentem na pele, dia-a-dia através da venda de sua força de trabalho, tudo que Marx, Engels, Trotsky e diversos outros teóricos revolucionários escreveram. Cabe aos estudantes e trabalhadores revolucionários um esforço cada vez maior de “desacademicizarem” o marxismo, tirando todo o viés profano, petulante e inofensivo que há anos a burguesia lhe concebeu, e deixar o mesmo concreto para a classe trabalhadora, resgatando desse modo, seu caráter transformador e subversivo.
A universidade é um espaço em disputa. Seu conhecimento HOJE serve para manutenção da ordem. No entanto, os estudantes devem lutar para que o conhecimento produzido nos “centros de excelência” burgueses sirva cada vez mais para orientar e compor – instrumentalizar - as lutas da classe trabalhadora, resgatando mais do que nunca o marxismo revolucionário. Desse modo, se coloca na ordem do dia a ligação orgânica, a união entre estudantes e trabalhadores, para que os estudantes atuem ao lado da classe trabalhadora para que a mesma possa suprimir tanto a sociedade burguesa como a universidade burguesa. O marxismo deve voltar a ser temido pela burguesia, por ser uma ferramenta revolucionária, e não uma mera teoria acadêmica.

Leandro Guanais (Che), estudante de História.
Militante do Movimento A Plenos Pulmões Franca

Nenhum comentário: